upon the sky,


So, Goodbye (…)
outubro 28, 2010, 9:54 pm
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É necessário explicar, antes de mais nada, como surgiram todas essas lembranças. De pouco recordo datas exatas, horas exatas, momentos exatos. Apenas conto tudo aquilo que um dia deixei guardado nas caixas antigas. Hoje entre os pequenos fragmentos de papel, encontra-se também poeira, lágrimas que foram recolhidas, e sinais de diálogos que um dia sonhei. Típicas palavras que nunca saíram, guardadas em todos os lugares, em letras miúdas, que se transformaram na minha história. Talvez, não exatamente em minha história, mas naquela história que um dia desejei viver. Aqui, exatamente aqui, você poderá encontrar sinais de algo que nunca tive, pessoas que estavam em minha vida e acabei perdendo com o passar das conversas. E pessoas que um dia, encontrei na rua e transformei em parte de minha vida. Quem sabe, você pode estar aqui, entre pequenas e inusitadas manias que se transformaram em todo esse meu universo paralelo. Pouco me lembro, pouco me lembro. Às vezes observo os retratos espalhados pelo longo corredor, e me pergunto se um dia já fiz parte deles. Se aquela com os cabelos sedosos e olhos brilhantes, realmente era eu. Penso que era apenas um espectro (com vida, por mais sem sentido que isso pareça), que dançava pelas ruas em saltos altos e conquistava todos com seu sorriso de lado. Tenho saudades de quando ainda tinha controle, não só de minha vida, mas de todos aqueles que apareciam nas fotografias. Observo então o meu reflexo no espelho, e lá estou – poucos cabelos, agora escorridos de forma desparalelada, algumas manchas brancas em meu corpo, e um sinal de sorriso escondido entre a falta de maquiagem. Pouco me pareço com aquela garotinha, apenas sinto. Sinto medo, angústia, e o nó guardado há tanto tempo em minha garganta seca. Arranha de forma como se já fosse costumeiro, tento ignorar.
Continuo procurando entre as caixas, tudo o que poderia ser útil para escrever essa história, mas encontro apenas as mesmas palavras, as mesmas lembranças de noites que caminhei sozinha, ou de noites que estivesse embalada por qualquer droga. Leio os diários que escrevi durante todas as vezes que usei substâncias alucinógenas, em um deles, comento sobre os quadros escuros do meu corredor. Deparo-me com o fato de que estou sentada no chão do mesmo, e dessa vez, os quadros não parecem tão assustadores assim. Sentia-me sozinha, porém, agora estava acostumada com o fato. Certas pessoas não nascem para amar – alguém disse isso uma vez. Não me lembro não me lembro de nada.

Gostaria de explicar melhor do que se trata essa minha louca desventura sonhada, apenas não encontro palavras exatas para descrevê-la. Com o passar do tempo, minha arte de dominar as palavras também acabou por se corromper. Olho fixadamente para a garrafa de whisky envelhecido, está vazia, por sorte. Tento lembrar exatamente como foi parar naquele lugar estranho, entre tantas caixas e fotografias. Apenas recordo de estar deitada em minha cama e de sair caminhando pela casa, enquanto refletia sobre nossa despedida. Doía como nunca, ardia em todas as partes de meu pequeno e agora tão frágil corpo. Encontrei cada diário em um cômodo da casa, jogados pelos cantos, entre as mobílias desgastadas. Alguns pedaços de cartas e papéis com anotações dentro deles. Cada palavra parecia me corroer mais profundamente, como se estivesse numa louca expedição para conhecer melhor cada parte de minha essência. Confesso que no começo tive medo de lê-los, poderia me deparar cada vez mais, com as partes podres, e então compreender de vez o ser humano frio que me tornei. Faltava algo, sempre vivi com esse espaço em branco. Não sei exatamente como preenchê-lo, continuo buscando de todas as formas, maneiras de me arrepender, e maneiras de continuar. Ainda assim, pareço estagnada no mesmo lugar.
Recolho então o último pedaço de papel, preso ao espelho no final do corredor. “Viva sua própria mentira” Duas lágrimas caem sem que perceba, escorrem faceiras em minha fronte. Entendo a necessidade de continuar escrevendo e contando como seria a vida que sempre desejei, boa parte dela ao seu lado. Certa vez você perguntou qual seria o exato sabor da felicidade, deixo aqui minha tentativa de explicá-lo a você.
Peço desculpas por assustar com essas minha palavras, porém essa é apenas mais uma carta, com a qual inicio minha história. A história que sonhei, apenas isso.

Para Jamie,
com certo amor.

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